CARREGANDO

Busca

O cobertor curto

A primeira notícia impactante da semana refere-se ao aumento do pão nosso de cada dia em 30%. Naturalmente, ao me referir ao pão incluo todos os produtos cuja matéria prima é o trigo. Esse aumento também é resultado da guerra entre Rússia e Ucrânia, como foi o recente aumento dos combustíveis.
Nós, Brasil, importamos trigo da Rússia e também importarmos de lá a maior parte dos fertilizantes que usamos aqui. Também, claro, importamos muito trigo da Argentina.
Desde os anos 1960 no Brasil se fala em auto suficiência do trigo. Bela falácia política que até hoje não passa de uma vã esperança. A verdade é que mesmo com o esforço dos produtores desse cereal com suas espigas douradas perdemos em qualidade até para o trigo argentino.
Nos anos 1970 um produtor gaúcho da região de Passo Fundo já dizia que plantava trigo para colher “Proagro”, isto é, receber o seguro agrícola criado pelo governo para cobrir prejuízos com safras frustradas.
Hoje, a produção e produtividade já estão muito maiores graças ao esforço dos produtores que investiram muito no setor da triticultura, mas, na verdade, a autossuficiência na produção não é atingida devido à falta de políticas de Estado, com foco específico na rotação de culturas agrícolas e incentivo à sua estocagem. Aqui, no Brasil, concentra-se tudo na produção de soja e milho pela rapidez da exportação pós colheita.
Se soja e milho são cultivadas em muitos estados brasileiros e têm uma rotatividade de plantio maior, podem ser mantidas as políticas atuais. Entretanto, culturas de cereais de alto consumo e que não há como de se obter mais de uma safra anual, como o trigo, é necessária uma política de estocagem pública ou incentivada para garantir o consumo nacional no período entre duas safras.
O grande mal do Brasil é de estar politicamente mal administrado para a produção primária. A nomeação de ministros para cargos de confiança nos mostra pessoas com visão muito restrita para o contexto, o que mostra serem pessoas sem a competência exigida para o cargo. Por isso, qualquer movimento bélico internacional, proporcionado por presidentes prepotentes e irresponsáveis, acaba estourando nas economias emergentes, como a do Brasil, que não têm estrutura suficiente para garantir a estocagem da produção, de acordo com a necessidade do consumo interno.
Há poucos dias também tivemos o impacto do aumento dos combustíveis entre 17% e 25%, que mostra a voracidade tributária existente no país. A Argentina, também importadora de petróleo, tem um preço 50% menor do que o nosso. Mas aqui, no Brasil, mensalmente damos uma voltinha pelo Banco Central onde se reúnem os donos do dinheiro na Copom para negociar as taxas de juros para mais um mês. Desta vez, e certamente a taxa Selic saiu dos 10,75%aa, para 11,75%aa. “nois aceita né”?
Como estamos vivendo sob as Leis de mercado pouco podem fazer os governantes para amenizar essa situação. Para os juros, o BC é independente e para os produtos tiram ou reduzem tributos para reduzir o impacto sobre inflação. Mas essas atitudes são sempre paliativas do tipo cobertor curto. Se cobrir a cabeça e descobrem os pés e logo aí adiante surgem novos paliativos.

Renan Alberto Moroni

Últimas colunas