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Inicio este texto, com esta frase de reflexão do teólogo Tillich: “A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho”. Solidão e solitude, portanto, são duas situações diferentes. A avaliação do que é bom ou ruim, agradável ou desagradável, passa sempre por um julgamento de valor.
No entanto, podemos entender a solidão como algo imposto e não desejado, uma situação desconfortável que vai na contramão dos desejos. Por exemplo: uma pessoa que deseja um relacionamento - tem o desejo da companhia de alguém. Assim, estar com alguém é uma situação agradável, enquanto que o seu oposto é visualizado como algo ruim.
A solitude, por sua vez, envolve o fato de que estar sozinho não precisa necessariamente ser associado à algo ruim. Muitas vezes, estar só é uma maneira de buscar autoconhecimento, paz interior e reflexão. Pode ser bom para colocar as ideias em dia, pensar a respeito da vida: relacionamentos, trabalho, vida pessoal... É possível ler um livro, escutar uma música, assistir a um filme, admirar uma paisagem, dançar sozinho, fazer exercício físico, comer uma comida saborosa, escrever um artigo, fazer planos, sonhar... A solitude traz a possibilidade do silêncio, e o silêncio pode proporcionar calma, tranquilidade e paz.
Assim, a solitude é um ato consciente e proposital, e, portanto, saudável. É um ato de amor próprio e de construção, validação e inspiração. Destarte, difere da solidão e do isolamento social, que pode ser prejudicial e acarretar diferentes danos emocionais, físicos e espirituais.
Para entendermos melhor a positividade da solitude, compartilho uma frase do Amyr Klink, navegador reconhecido por desbravar mares e oceanos, superando limites pessoais, com foco, planejamento e protagonismo: “Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão. Um estado interior que não depende da distância…nem do isolamento; um vazio que invade as pessoas… E que a simples companhia ou presença humana não pode preencher. Solidão foi a única coisa que eu não senti, depois que parti…nunca…em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e de pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudade…mas não estará só!”.
Portanto, quem está em solitude não sente solidão. Sente um estado interior de busca e amadurecimento. Somente podemos valorizar o quente, porque sentimos o frio. Valorizamos a presença, porque já sentimos saudade. Valorizamos, porque já sentimos o oposto antes. E a vida é assim, um vai-e-vem de opostos, que se complementam e nos mostram que a felicidade de estar vivo é o mais importante de tudo. Porque, enquanto se está vivo, é possível sonhar, planejar e realizar. É possível sentir solitude, sem sentir solidão e, assim, sentir a relevância do contato de estar consigo mesmo!