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Dois grandes jornais brasileiros amanheceram, em 3 de junho de 1958, com uma manchete que surpreendeu o setor vinícola mundial. “Brasil vai exportar vinho para a França”, estampavam o Correio da Manhã e O Globo.
Para se ter uma ideia do que representou essa notícia, basta dizer que, até aquele momento, o setor vinícola brasileiro figurava no mapa mundial com pouquíssima relevância.
A exportação representou uma inversão na ordem natural do mercado, já que a França era a maior referência mundial do setor, enquanto o Brasil ainda engatinhava na elaboração de vinhos.
E um garibaldense teve influência direta nas negociações. De olho na guerra que afetou a produção vitivinícola no norte da África (forte fornecedor para a Europa) e em fatores climáticos adversos que fizeram com que a produção francesa caísse para metade, Humberto Lotti, então diretor comercial da Cooperativa Garibaldi e presidente da Fecovinho, intermediou a negociação.
Pelo lado europeu, os trâmites estavam a cargo de Guy de Foucauld, o conde, que hoje é marca de vinhos e espumantes da Aurora, com a assistência do presidente da Möet & Chandon, na época.
Antes disso já havia sido enviado um carregamento com quatro milhões de litros para a Argentina. O cais do porto da capital gaúcha foi transformado em um grande depósito vinícola. Quatro navios franceses foram enviados com a missão de transportar a bebida, um clarete (vinho rosado de uva Hebermont, cortado com vinho tinto de uva Isabel).
Contudo, o negócio só foi concretizado parcialmente, já que o governo francês autorizou a operação com obrigação de que o vinho fosse entregue em até três dias. Apesar de uma verdadeira força-tarefa, somente 18 milhões de litros chegaram ao país europeu no prazo estipulado.
Mesmo assim, o fato marcou a história da vitivinicultura gaúcha e colocou o Brasil no radar mundial. Além disso, foi, na ocasião, a salvação do setor, que viu o consumo per capita no país aumentar e ganhar um pouco de respeito no mercado interno.