(54) 3462 6033
Recentemente assistimos a uma cena grotesca de um homem sendo brutalmente espancado por dois seguranças de um supermercado em Porto Alegre, o que causou a sua morte.
Além do fato em si já causar mal estar e revolta, verificou-se o despreparo da equipe que conduziu a situação, e que acabou em uma tragédia. Nenhuma atitude da vítima dentro do supermercado poderia levar a esse resultado.
O Estado (e aqui me refiro ao Estado como poder de administração) define o que é permitido e o que não é, e quais as consequências para cada atitude que contrarie o que está estipulado em lei, seja através de advertências, multas, sanções ou até a prisão do contraventor. Mas não é admitida a pena de morte, conforme consta na Constituição Federal. Além disso, somente é possível a aplicação de uma pena após uma verificação ou decisão, administrativa ou judicial, e não aplicamos a lei de talião (olho por olho, dente por dente).
Mas tão chocante quanto a cena do espancamento, é vermos a atitude da mulher ao lado dos agressores, assistindo o ocorrido “de camarote”, com o intuito de filmar a agressão, para ter o registro do ocorrido, ou para passar o vídeo nos grupos de mensagens, tão comuns hoje em dia.
É isso que quero destacar: será que chegamos ao ponto onde é mais importante filmarmos as tragédias, os erros e defeitos dos nossos semelhantes, para poder mostrar isso aos outros, ao invés de ajudar e prestar socorro aos que necessitam? Estamos tão individualistas que nos relacionamos melhor com os nossos telefones, tablets, aplicativos etc., do que com os nossos pares? Será que o distanciamento social imposto por conta da pandemia nos tornou menos empáticos, ou humanos?
Outro caso ocorrido em Nova Prata demonstra o mesmo comportamento das pessoas: algumas filmando outras (por volta de 40) batendo em um cidadão, que também veio a falecer.
Muito li: “mas veja a ficha criminal da vítima”. Se for verdadeira a que circula pelas redes sociais, sim, ele tinha cometido delitos, mas no momento da ação isso não era de conhecimento de nenhum dos agressores. Meu ponto aqui é: qualquer uma dessas coisas justifica matar uma pessoa?
Este caso de Nova Prata, mesmo que a vítima tivesse importunado duas mulheres, ele mereceu a morte? E esta vítima de Nova Prata também tinha ficha criminal? Parece que essa é a nova regra social: Voltamos à selvageria e “justiça” com as próprias mãos. Chegamos ao individualismo extremo.
Acredito que agora a justiça será feita como deve: apurar, investigar, denunciar, instruir (produzir provas, ouvir testemunhas...), julgar e, se houver condenação do Estado, prender. Como dizia John Locke “onde não há lei, não há liberdade”.
