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A expressão trollar é uma gíria da internet que significa zoar, chatear, tirar sarro. Consiste em sacanear os participantes de uma discussão em fóruns da internet, com argumentos sem sentido, apenas para enfurecer e perturbar a conversa.
Em tempos de pandemia provocada pelo coronavírus o ato de trollar alguém não acontece só no ambiente virtual. Assistimos a episódios estarrecedores de brasileiros sendo presos por trabalhar durante a quarentena, ao mesmo tempo em que, vá entender, criminosos são retirados do confinamento nas cadeias. E somos informados de que governos estaduais poderão, em breve, acessar dados das operadores de celulares para identificar aglomerações, enquanto tentam emplacar uma medida ainda mais invasiva: o acesso a informações individualizadas, que infringiria a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
É claro que a supressão de direitos fundamentais como o de ir e vir, ou o de trabalhar para garantir o pão de cada dia, vem sendo implementada, alegadamente, em nome de um valor maior: a saúde e o bem-estar da coletividade. E supostamente com caráter provisório. É bom lembrar que muitas das medidas excepcionais adotadas após as recentes ondas de atentados acabaram incorporadas à legislação de vários países.
O pior é que o perigo não se apresenta apenas na forma de medidas pontuais, mas refletiria uma mudança cultural mais profunda. Trata-se do argumento de que governos totalitários estariam mais equipados para lidar com as complexidades e riscos da sociedade globalizada, como ataques cibernéticos, guerras biológicas, terrorismo e migrações descontroladas, do que as velhas democracias representativas, com seus lentos processos de construção de consensos e o constante desafio de conciliar direitos individuais e coletivos.
Ou seja, a pandemia está nos colocando, mais uma vez, diante do velho embate entre duas visões opostas de mundo: o modelo totalitário, no qual o Estado tutela os indivíduos sob o pretexto de assegurar o bem coletivo, e a democracia, que reserva aos cidadãos informados a prerrogativa de decidir sobre o próprio futuro.
Bom final
de semana!